19.3.09

Valmir Santos indica 20 peças entre as 290 do Fringe

Valmir Santos indica 20 peças entre as 290 do Fringe. Na Verdade Não Era é uma delas.

Abaixo os motivos.

Na Verdade não era o Sinal de Vai Tomar no Cu

"Não confundir com o festival de besteiras que assola o Fringe com os títulos de peças locais, invólucros proporcionais aos conteúdos. O que está em jogo aqui é o experimento narrativo minimalista pela pena de Luiz Felipe Leprevost e direção de Nina Rosa Ruski. Três banquinhos, três moças, três figurinos roxos e tons de luz idem. Imóveis, sentadas, levantando-se em raros instantes, elas fazem o espectador mergulhar num fluxo que puxa para cá, puxa para lá e atualiza um pouco o espírito das transmissões radiofônicas de outrora em que o ouvinte, ou o grupo de ouvintes, deixa-se levar pela voz. Projeto da Companhia Provisória/Os Iconoclastinhas, fusão nascida em 2008.

Valmir escreveu no blog do Cena Breve:

O cenário é minimalístico e tem a ver com a forma como essa história é narrada, Na verdade não era o sinal de vai tomar no cu. Três banquinhos, três moças, três figurinos roxos e tons de luz, idem. Imóveis em suas posturas, sentadas, em pé somente em raros instantes, elas fazem o espectador mergulhar num fluxo que puxa para cá, puxa para lá e atualiza um pouco o espírito das transmissões radiofônicas de outrora em que o ouvinte, ou o grupo de ouvintes, deixa-se levar pela voz.

Mas estamos no teatro, o edifício com a platéia frontal. A joint-venture Os Iconoclastinhas/Companhia Provisória experimenta parâmetros da fala, e de como se fala, em detrimento de outras concorrências cênicas, salvo pontualidades coreográficas brevíssimas. A aposta de Nina Rosa Sá, a diretora, é escoar solto o pingue-pongue dessas mulheres de línguas e pensamentos afiados na dramaturgia de Luiz Felipe Leprevost. O autor roça oposição a Play, de Beckett, e suas três cabeças falantes, céleres e semi-enterradas em urnas. Aqui, a luz escancara; lá, na dramaturgia do irlandês, o breu é guiado por uma luz fulminante.Resta ao conjunto das intérpretes, porém, mais fôlego, no melhor sentido, para sustentar suas Kel, Ili e Inha, nomes cuja pronúncia faz a língua ir aos dentes, aos céus da boca, em busca do por onde. Uma das atrizes, a do meio, Ciliane Vendruscolo, é mais desenvolta, alarga o labirinto da narração para que o espectador vá consigo nas desventuras de uma certa U, a mulher que atravessa a cidade dentro de um ônibus, uma saga bem-humorada à base do diz-que-diz sobre a desgraça alheia. As vizinhas de banquinho, Ana Ferreira e Kelly Eshima, que ora retrucam ora endossam, desequilibram na projeção de voz, na cor da palavra, no timming da respiração que certos momentos do relato pedem.Mas fato é que essa história viciosa em seu afirma-e-nega tem tudo para desenvolver-se em todos os planos que sinaliza, está dito.

Um comentário:

  1. Fui hoje ver NA VERDADE NÃO ERA ...(etc) - quero registrar aqui (e não é pelo Lepre ser meu amigo e um cara bacana) : o texto é muito bom, foi bem amarrado, a Uyara vai muito bem na terceira parte - a Ana Ferreira apavora e Ciliane e Kelly não ficam atrás. Para mim, foi uma bela forma de comemorar o aniversário da cidade: sacrificar um jogo do Brasil e um crepúsculo de domingo em Curitiba (talvez o mais maníaco-depressivo dos crepúsculos) pra curtir um óptimo espetáculo. Saudações a todo(a)s o(a)s envolvido(a)s neste flagrante delito!

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