23.9.09

Mostra Cena Breve!

No mês de novembro o projeto Pecinhas Para Uma Tecnologia do Afeto continua.

O Teatro de Ruido apresentará sua Parte 1 - O Teste.

É uma prévia do espetáculo que estará na Mostra Cena Breve.

Em breve, mais informações.

8.9.09

Acompanhem nosso twitter: www.twitter.com/teatroderuido

29.8.09

Só restam mais dois dias de Na Verdade Não Era no Teatro José Maria Santos.
Hoje (sábado) às 20h e domingo às 19h.
Não perca!!!

25.8.09

Estamos na TV!!!

Nesta sexta, às 13h30, as meninas de Na Verdade Não Era falam sobre o espetáculo ao vivo na TV Mercosul. Não Perca!

21.8.09


Venha conferir!!
No Teatro José Maria Santos!!!

18.8.09

Isto é tecnologia do afeto

Tecnologia do afeto é assim: você dá um abraço podendo utilizar ou não os braços.
É difícil desgrudar, mas você tem que continuar caminhando.
Há quem derreta até o chão. Há quem não quer ser abraçado. Também quem é indiferente. Tem aqueles que não aguentam ver. E os que formam montes humanos.
Você pode ser muito grudento e ninguém mais querer te abraçar. Ou ser muito frio e ganhar um abraço a força.
Você pode se jogar nas costas, abraçar as pernas, se pindurar na cintura, puxar os cabelos.
Talvez você sue. Talvez você tenha uma ereção. Talvez falte ar. Talvez doam as pernas. Talvez você tenha um ataque de riso. Talvez um sorriso.
E então já não importa se alguém te quer ou te rejeita, se você corre demais pra conseguir um abraço ou se grudaram no seu pé.
O que importa é a técnica aplicada. Técnica de vida viva. Técnica de ação e reação. E inércia. Técnica para chegar, para sair, para beijar, para escarrar, para ignorar, para escorregar, para recomeçar com o outro. Sempre assim, sempre com o outro. Didaticamente.
Isto é tecnologia humana. Precisamente afetiva.

17.8.09

Então já estamos na metade da temporada. Corra para assistir Na Verdade Não Era!! Ainda há tempo para desvendar o mistério...

Mas antes, um tira gosto:

"ILI: Já sentada no ônibus U olha para a velha na calçada... Vê que a velha arrasta uma cauda de culpa, que mais se assemelha a cauda de um crocodilo... A velha arrasta aquela cauda com ela para onde for... E U vê os pregos de trinta centímetros pregados no rabo da velha... Os pés sujos e descalços da velha...

INHA: Nenhum sapato...?

KEL: ...Borracha...?

ILI: ...Nada... A velha pisa na frigideira do asfalto e não faz nenhuma careta de dor... Se bem que o rosto da velha é todo ele o rosto da dor, isso se a dor tivesse um rosto só...

KEL: São fiapos de manga aquilo ou é o cabelo da velha...?

ILI: É exatamente essa a indagação que U faz...

INHA: U sentiu o fedor dessa velha?

ILI: E o fedor está com ela agora ali no ônibus... É um cheiro desses que afugenta ratos...

KEL: U pensa que a boca da velha é podre que nem a boca de um abutre...

INHA: Ui, guria...

KEL: A velha feiticeira...

ILI: Todos temem a velha...

KEL: E U, a tonta, tropeçou no balde amaldiçoado da velha...

INHA: Cagada..."

Por Luiz Felipe Leprevost.

13.8.09

Na calçada... Um balde... Chamas, fogo dentro do balde... Uma velha pede esmola... Recebe a esmola dos transeuntes... Pega as cédulas de dinheiro e joga dentro do balde... As cédulas viram fumaça... As moedas permanecem intactas...

10.8.09

Tivemos uma boa primeira semana de temporada!
E a segunda será ainda melhor...

Esperamos a todos!!

6.8.09

A temporada começou!

Então é isso. Estamos em temporada. E é um prazer! Ainda mais por sermos um dos bravos que se tornaram as únicas opções teatrais de Curitiba. Estamos felizes em receber cada um que vai ao teatro. Estamos esperando todos que ainda não foram...

Se você está preocupado com a gripe, não se preocupe, temos álcool na entrada e você ainda pode fazer como o pai da Kelly que foi de máscara e pagou meia entrada.

Estamos animados com o final de semana que está começando. Apareça!!!!

Serviço:
Na Verdade Não Era
Local: Teatro José Maria Santos
Data: 05 a 30 de agosto
Horário: de quarta a sábado às 20h e domingo às 19h
Ingressos populares: R$10 (jnteira) e R$5 (para estudantes e mascarados)

5.8.09

Gazeta do Povo: Curitiba no tabuleiro

A peça Na Verdade Não Era, do Teatro de Ruído, volta ao cartaz depois de uma boa recepção no Festival de Curitiba
Publicado em 05/08/2009 Luciana Romagnolli - Gazeta do Povo
Uma das peças locais que alcançaram maior projeção no último Festival de Curitiba retorna ao cartaz esta semana. Na Verdade Não Era, apresentada na Mostra Novos Repertórios pelo grupo Teatro de Ruído, inicia hoje à noite uma nova temporada no Teatro José Maria Santos, onde permanece por um mês, pelo Circuito Cultural Sesi – Teatro Guaíra.
O espetáculo é fruto do encontro entre a diretora Nina Rosa Sá, da extinta Cia. Provisória, com o dramaturgo Luiz Felipe Leprevost. Eles se conheceram quando participaram juntos de uma leitura de escritos de Hilda Hilst. Logo, acompanhando o blog do novo amigo, a diretora se interessou pelo que ele escrevia, e comandou a leitura cênica de um fragmento de 20 minutos, então intitulado Na Verdade Não Era um Sinal de Vá Tomar no Cu.
A parceria foi dando certo, encontrou lugar na Mostra Cena Breve do ano passado e evoluiu para um espetáculo completo, ao mesmo tempo em que Leprevost e Nina fundaram juntos uma nova companhia, a Teatro de Ruído.
Para aquelas poucas páginas iniciais se avolumarem até o texto final, urdido com tintas surrealistas, o dramaturgo se serviu dos traços de personalidade que as atrizes Ana Ferreira, Cilliane Ven­drusculo e Kelly Eshima haviam conferido às personagens na ocasião das leituras. “A Kelly tem uma veia mais cômica que fica clara no texto, a maior parte das falas engraçadas é dela. A Ana tem uma postura questionadora mais incisiva. E eu acabo sendo mais diplomática”, comenta Cilliane.
Ela centraliza a narrativa das aventuras da garota U, da qual se ocupam as três atrizes, vestidas como pinos de uma partida de tabuleiro. Movem-se o mínimo possível, para deixar que as palavras ditas ganhem toda a atenção. Como peças do jogo, alternam a vez de falar, ora competindo entre si, ora se ajudando mutuamente a inventar a saga urbana por Curitiba.
“Leprevost trabalha com um texto completamente narrativo. A ação se dá na fala. Nosso trabalho foi como imprimir diversas camadas a essa história, porque é engraçada, mas tem também uma dimensão do trágico, do caos urbano e dos seres que estão à margem”, diz Nina, citando figuras como as universitárias que custeiam seus estudos trabalhando como garçonetes, a velha mendiga e as senhorinhas praticantes de budismo sempre vestidas de roxo.
Outro tema incubado na peça é o estar só na multidão da grande cidade. “A solidão, benzinho, é essa manada que tá aí”, diz a certa altura o texto.
Dois atos se passam em que toda a “ação” é condensada na sugestão intensa de imagens. A partir de um terceiro momento, os planos do real e do imaginário se confundem. Saem as três contadoras de histórias e entra em cena a própria U, em monólogo de Uyara Corrente, que não à toa emprestou a primeira letra de seu nome ao papel que interpreta. E U diz que as outras é que eram personagens da sua imaginação.
Entusiasmado com a boa acolhida que teve até agora, o Teatro de Ruído planeja prolongar a vida do espetáculo, inscrevendo-o em editais e festivais pelo país. O primeiro a ser confirmado foi o Festival de Teatro de União da Vitória, em outubro.
* * *
Serviço
Na Verdade Não Era. Teatro José Maria Santos (R. Treze de Maio, 655), (41) 3304-7954. Quarta a sábado às 20 horas e domingo às 19 horas. R$ 10 e R$ 5. Até 30 de agosto.

3.8.09

Amigos, agora estamos no twitter.

http://twitter.com/teatroderuido

Sigam-nos os bons!!!

Se estes caras estão envolvidos é porque a situação é barra pesada.

Kelly: Duas horas da madrugada o Detetive entra no Gato Preto.
Ana: Gato Preto?
Cili: Gato Preto, a boate?
Kelly: A boate, ele entra na Boate Gato Preto procurando por U.
Ana: Tá.
Kelly: O balofo atrás do balcão lhe serve um caubói made in Paraguai.
Ana: Que o Detetive vira num gole.
Cili: Mimetizando o modo como Fredi tomara à tarde seu café.
Kelly: Exatamente.
Ana: O uísque rasga sua garganta.
Cili: Sou carnívoro, não piro maníaco.
Kelly: Sou carnívoro, não piro maníaco, é o que o Detetive pensa.
Ana: De repente ele escuta um bafo podre na sua nuca: Tá procurando quem valentão?
Kelly: Então ele nem sequer se vira, e diz: Não é da tua conta.
Cili: Não é da tua conta.
Kelly: Quem está ali é Manolo, um maníaco.
Ana: Isso, Manolo, o Detetive conhece a fama de Manolo, e pode acreditar, não é das melhores.
Kelly: Manolo dá um mata-leão, tenta imobilizar o Detetive.
Cili: Sorte que o Detetive...
Ana: Azar de Manolo
Cili: Tem treinamento.
Ana: Aliás...
Cili: Aliás, sorte de Manolo, porque o Detetive não pretende matá-lo.
Kelly: A menos que se veja obrigado.
Ana: Ele se vê obrigado.
Cili: Então, com um golpe de Krav Maga, Manolo é lançado em cima de uma mesa cheia de copos e garrafas.
Ana: Isso, em segundos o Detetive controla a situação, mas (ironicamente) por breves segundos.
Cili: Pois aparece o filho da mãe do Urso.
Ana: Outro psicopata catedrático da área.
Kelly: Ironicamente.
Cili: Se esses caras estão envolvidos é porque a situação é barra-pesada.
Ana: A situação é barra pesada.
Cili: O Urso ergue o Detetive pelo colarinho.
Ana: E chacoalha.
Cili: O cérebro do Detetive é uma coalhada com mel.
Ana: Só que mais amarga do que a da Confeitaria das Famílias.
Kelly: Por algum momento, quem vê a cena de fora pode até confundir o Detetive com algum bunda-mole.
Ana: Mas quando o sangue entra em contato com outras substâncias...
Cili: Nesse caso a raiva.
Ana: O que acontece com quem está por perto, é de dar pena.
Kelly: Nem sequer se faz necessário que o Detetive use seu 38 série limitada.

2.8.09

Nesta quarta, retorna aos palcos curitibanos a maior saga urbana do teatro!!







Estar lá é uma questão de fazer parte da história!!

31.7.09

Nos adicione!!

Queremos ser seu amigo no Orkut!! :D

Nos adicione:

http://www.orkut.com.br/Main#Profile.aspx?uid=15528602803665557651

Esperamos o seu scrap!!

23.7.09

Na Verdade Não Era


Olá a todos!
Cá estamos novamente.
Sumimos, não?
Na verdade não.
Na verdade estamos por estas semanas na sala de ensaio da Vicente Machado na aconchegante Casa da Kelly. Assistimos ao Bruno Aleixo no aquecimento (na verdade ele não tinha morrido) e comemos bolo com chá nos intervalos.
Falamos, falamos, falamos.
Discutimos postura da coluna vertebral, respiração abdominal, projeção vocal, dicção, jogo, ritmo, ritmo, ritmo, o casamento, o namoro, a briga com a mãe, o estado financeiro, o amigo viciado, o último episódio de Som e Fúria, o avô do Bruno Aleixo, o frio desgraçado e novamente a respiração abdominal.
Fazemos abdominais.
Falamos, falamos, falamos. O texto. U chora, U corre, U some.
Estamos gargalhando. Na verdade estamos chorando.Nos dando. Nos expondo.
Estamos aqui. Apenas pra podermos convidar a todos para que estejam com a gente. Pra que nos ouçam. Pra que se ouçam. Pra que apareçam e, então, sumam também.

Na verdade tudo isso não passa de um conto sobre um ônibus que explode. Ou que na verdade não explode nunca.

Próxima parada: Estação Teatro José Maria Santos. Dia 05.

9.6.09

Pecinhas para uma tecnologia do afeto

Noite dos não-atores...


29.5.09

Pecinhas para uma tecnologia do afeto (parte 3)


Na próxima segunda (01/06) é o última dia da série de apresentações das PECINHAS PARA UMA TECNOLOGIA DO AFETO.

Luiz Felipe Leprevost, Nina Rosa Sá, Leo Fressato e Fábia Regina em cena em quatro dolorosas e aconchegantes apresentações.

No nosso aquífero quente, refúgio desse inverno dos espíritos, Wonka Bar (Trajano Reis, 326). Tudo começa às 21h, mas estaremos lá recebendo a todos desde as 19h.

A entrada é franca. A saída é que vai te custar R$5,00. Esperamos que tão pouco não seja um impecilho para termos sua companhia.

Nos vemos lá!

Veja também: www.notasparaumlivrobonito.blogspot.com

27.5.09

O Aviador



Vídeo do Clipe de Leo Fressato, O Aviador.
Direção Leo Fressato e Nina Rosa Sá.

26.5.09

Pecinhas para uma tecnologia do afeto - parte 2

Ampulheta - Uyara Torrente

Direção: Ciliane Vendrusculo


Algodão Doce - Emanuelle Sotoski
Direção: Nina Rosa Sá

Bom Ar - Kelly Eshima

Direção: Nina Rosa Sá

Pecinhas para uma tecnologia do afeto - parte 1

Olho Humano - Ana Ferreira

Direção: Nina Rosa Sá



Sala Vip - Ciliane Vendrusculo

Direção: Fábia Regina


23.5.09


PECINHAS PARA UMA TECNOLOGIA DO AFETO
(parte 2)

25/05 (nessa segunda) no Wonka a partir das 21h

três textos geniais de Luiz Felipe Leprevost
interpretados por kelly Eshima, Emanuelle Sotosky e Uyara Torrente.

Sem contar a grandiosa estréia de Ciliane Vendruscolo na direção teatral!!!

IMPERDÍVEL!!!!

E no dia 01/06, a última parte.

19.5.09

O Teatro é Necessário - mas não é para todos

Por Ana Ferreira

A necessidade não é algo tão objetivo quanto a palavra pretende insinuar. Para sobreviver temos a necessidade de oxigênio, comida e uma temperatura terrestre mediana. Mas a necessidade de sobreviver existe? A que se deve uma existência? Do ponto de vista da natureza, apenas para servir a continuidade do ciclo de existências. Daquele pessoal, à felicidade. Por essa dificílima empreitada, a felicidade, grande parte da humanidade tem brigado há décadas acreditando que doces sonhos são feitos de lágrimas de outros. Uma outra parte, bastante restrita, essa que se envolve com o pensar artístico e é, por isso, privilegiada, sente-se culpada por essa vantagem e passa então a pensar que deve consertar o mundo. Grotowski, em uma palestra no Rio de Janeiro em 1974, já teria dito que ninguém pode mudar a própria vida em busca da felicidade sem que mude a dos outros. Mas também alertou sobre o perigo de se querer transformar o mundo e a impossibilidade de, mesmo em círculos pequenos, modificar a vida como um todo através da arte. “Através da cultura, é verdade, pode-se falar a propósito das modificações do mundo. Através da criação pode-se falar como mudar a vida, as estruturas, a civilização, como tornar o mundo melhor. Mas ‘falar a respeito’ não modifica nada. Lamento”, disse o teatrólogo. Fato é, que o seres humanos encontram a felicidade através de diferentes meios, alguns da religião, outros no contato com os fenômenos naturais, outros na relação com o outro. São formas de entrar em contato com uma essência da vida. Denis Guénoun nos deu a pista sobre de que se trata o teatro: libertar a própria existência para convidar o próximo a libertar a sua. O teatro nos é apresentado então como uma das tentativas de felicidade, como uma forma de tentar o contato com o outro encontrar-se.


Para Grotowski, a única forma de se relacionar profundamente com outro ser humano é através da verdade. Este é o problema geral da arte: quer-se evitar o ato verdadeiro, substituí-lo por sua imitação perfeita. Mesmo no teatro chamado “de participação” tudo se apresenta banal, a espontaneidade instintiva a que se propõe é extremamente falsa. Foi essa a consciência que começou a surgir em meados do século passado e nos trouxe à exposição do jogo, ato pretendido pelo teatro contemporâneo. Na cena, toda presença é concreta, o ator expõe essa condição e faz dela um instrumento para estabelecer uma relação de sinceridade com o espectador que permita a fruição da ação poética. O representado não é mais a verdade do texto, a verdade do texto teatral é desnudamente poética: a ficção não deve ser servida pelo ator, mas o ator deve, se for o caso, induzir ficções. Se muitas narrativas ainda roçam no imaginário das personagens, não o obedecem mais.

"Trata-se então de elaborar uma verdade física. Os métodos variam: procura de uma autocolocação de uma interioridade (que, diante do olhar, deve ser conquistada), ou, ao contrário, trabalho da exposição pela exposição, buscando sua eclosão como ostentação no âmbito da verdade. O horizonte é sempre o de uma precisão: do deslocamento, do gesto, do olho, da própria imobilidade. E esta exigência não é representativa, mas apresentativa" (GUÉNOUN, p. 133).

Portanto a motivação do teatro é a do jogo entre a poesia e a existência. Trata-se de uma arte necessária na medida em que é um meio de busca pela verdade da vida através do contato real com o outro possibilitado pela poética. “O teatro é o jogo deste existir que oferece ao olhar o lançar de um poema. Só o teatro faz isto: só ele lança o poema para diante de nossos olhos, e só ele lança e entrega a integridade de uma existência” (GUÉNOUN, p. 147).

A questão é que, desde que o teatro decidiu por sua independência do imaginário, perdeu considerável número de público. Denis Guénoun defende que ele se deslocou para as aulas de interpretação, tentativa de se aproximar de uma arte da qual sente distância. Os tantos espectadores potenciais do jogo exposto estariam esperando do ator, que ali liberta sua existência, um convite para em dado momento fazerem o mesmo, para ser parte da ação dramática. Talvez seja essa sua necessidade. Buscar essa troca é, talvez, uma forma estabelecer uma comunicação mais profunda com aqueles que ali estão e, ainda, de atrair mais pessoas ao teatro. Afinal, querer se agrupar, ser componente de um conjunto, é uma tendência natural da humanidade. Busca-se na ação do outro uma inspiração ou justificativa para a própria. Por mais que soe massacrante, é libertador. Quanto maior a comoção, mais catártico.

Invoco novamente Grotowski para lembrar que não devemos nos enganar. O que queremos é apenas ser feliz e uma ação teatral verdadeira não garante nada disso. Ela é um meio de tentar, mas não o fim em si. Porém acredito que sua necessidade está exatamente em propor esse caminho. Querer que mais pessoas se integrem, querer espalhar esse bem para o mundo é válido na medida em que novos grupos se unem para tentar um contato com o outro, mais gente tem acesso a essa via de auto-encontro. Está aí a importância de procurar esse espaço que convide o espectador a libertar a própria existência. Mas querer que o teatro tome para si a responsabilidade de ser um remédio para os males da humanidade é querer fazer dele mais uma enganação, mais um produto fácil da cultura de massa que alimente a insaciedade e o vazio do espírito. Se, em alguns séculos passados, o teatro já foi tão popular quanto hoje é o cinema, é porque muitos buscavam nele o puro entretenimento, hoje existente em variedade rápida e fácil. Nem todos estão dispostos a pagar o preço da procura pela felicidade. O teatro, ao menos o teatro de exposição, nunca pertencerá a todos. Porque o teatro não é fácil, como ser feliz também não.

Bibliografia:

Guénoun, Denis. O Teatro é Necessário?. São Paulo: Perspectiva, 2004.

Palestra proferida por Grotowski em 8 de julho de 1974, no Teatro Nacional de Comédia, Rio de Janeiro. Tradução e transcrição: Yan Michalski. Não publicada.

17.5.09




Dentro da programação “Segundas Experimentais”, do Wonka.

Textos de Luiz Felipe Leprevost.Sala Vip, com Ciliane Vendruscolo e direção de Fábia Regina.

Olho Humano, com Ana Ferreira e direção de Nina Rosa Sá.

E a DJ Nina Rosa ainda vai tocar depois.Tudo isso por apenas $ 05,00.No Wonka Bar, nessa segunda, dia 18, às 21:00.


E mais: outras cenas dia 25/05 (parte 2) e 01/06 (parte 3). Em breve, mais informações.

10.4.09

Carta aos Produtores


Caros produtores,

Não é à contragosto que escrevo essas linhas. Se o faço é primeiro porque amo o teatro. Depois, para citar Constantin Stanislavski como se evocasse forças superiores, amo o teatro em mim e em todas as pessoas. Um terceiro motivo ainda é esse conhecido de vocês, o fato de que preciso e almejo sobreviver de minha arte, de meu trabalho. Vocês têm a caneta que aprova, vocês têm o bom-senso, vocês tem sido muito legais com muita gente, por que não seriam com um grupo que tem feito um trabalho sério, bonito e profundo como o nosso?

Saibam, tenho mais dúvidas que convicções. Mas tenho essa convicção, a de que vocês alguma vez em suas vidas tenham se comovido, experimentado um momento epifânico, algum reconhecimento de si naquilo que assistiram. Ou então, tenham se colocado diante de algum desafio, desejado conviver uma obra de arte, uma única e transformadora cena sequer, num truísmo de desvendar suas camadas (as da obra e as suas de ser humano) de compreensão. Ou até mesmo ter sido embalados por melodias, jogos e cores propostos por um grupo de atores que salvaram seu namoro, seu casamento, seu dia, ou sua vida. E vocês ficaram felizes ao presenciar aquele acontecimento. Algo que havia naquela música, naquele ritmo, naquela imagem, naquelas pessoas, fizeram com que seus semblantes subitamente, sem que vocês percebessem, se desanuviassem. E dali, após a peça, vocês foram para um café, para o motel, vocês foram conversar a respeito, e aquilo que viram continuou ecoando, eclodindo em seu sangue, em seu coração, na cabeça. E já não havia ferrenhas mandíbulas por perto. Nem nada a exumar. Pelo contrário, vocês estavam completamente dispostos a exaltar a criatividade. Isso que digo não é utópico, acontece todo dia. Sei porque já aconteceu inúmeras vezes comigo. Se assim é também com vocês, ou foi, será, e se será significa que não somos diferentes uns dos outros, nós artistas e vocês produtores, que temos ligadas intrínseca e essencialmente nossas profissões.

Estou escrevendo antes de mais nada para pedir que olhem com carinho para o nosso projeto, que não é iludido, embora pretenda muito. A nossa peça se chama Na verdade não era, nela vocês notarão que às vezes a profusão de como é narrada a estória faz com que se articule uma hiper-racionalização, porem tal ação tem como resposta imediata a certeza de que o último grau de lucidez também produz delírios, uma liberação entusiasmada, uma festa para inteligência e para as sensações. Isso porque as atrizes sabem contar essa estória com a voz molhada de bondade. E contar uma estória dessa forma é o mesmo que cantá-la. A nossa peça é uma cantiga de amar a cidade, com tudo que há de extraordinário nela. Mas isso de desvendar o extraordinário só foi possível depois que olhamos muito e atentamente para o ordinário, para o mundano. Ou seja, estamos na tentativa de abarcar o máximo de sutilezas e revelações possíveis.

Deixe que lhes fale, o teatro é como os relacionamentos, não é possível que o desempenhemos sozinhos, exige convivência, cobra paciência, construção afetiva. Isso depende de todas as partes, estamos sinceramente tentando fazer a nossa, mas precisamos de sua ajuda, queremos repetir um sem-número de vezes a mesma ação, pelo motivo de que ela se transforma a cada dia. E por que a ação se transforma a cada dia? Porque na peça Na verdade não era as atrizes se aproximam da consciência da platéia apresentando-lhe algo que ela (platéia) reconhece imediatamente, cenários comuns a todos, estórias com desdobramentos nem tão impossíveis assim, porem surpreendentes. Intervindo na imaginação do público, promove um jogo em que a cooperação instintiva e não menos racional pede intimidade, é um pacto, como se fossem segredos que agora todos comumente compartilham. O rito é compartilhado, a aventura é de todos, cada um na platéia é autor e executador do espetáculo, cada qual levará para casa um Na verdade não era particular. Vocês sabem, só se pode afirmar a relevância de uma obra para a sociedade se a obra for uma ação. Assim, o artista instrumentado, o que passou por inúmeros processos, o que se debruçou diante de seus estudos, que treinou as técnicas, as engrenagens físicas e psíquicas, o que desenvolveu um olhar particular em relação as coisas, visão de mundo, esse para além de ser um artista pode que seja alguém mais humanizado, compreensivo.

Certamente não me debruço a escrever essa carta com o intuito de fazer sucesso. Mais que sucesso pretendo fazer sossego, e isso não é só um trocadilho idiota. É que estou convencido que quando alguém me dá o privilégio de dedicar seu tempo a uma peça que escrevi, permitindo que eu retribua proporcionando-lhe acesso a ternura que há atrás de toda aquela estrutura, isso para mim é fazer sucesso e sossego ao mesmo tempo. Se o teatro, no que tange questões práticas do dia-a-dia, mesmo em termos civilizatórios, para alguns é menos relevante do que, por exemplo, a hidráulica que deu um jeito da água jorrar pela parede de qualquer apartamento, mesmo assim sempre haverá aqueles para quem não é possível passar mais de sete dias sem testemunhar um ato cênico, seja no cinema, na literatura, ou no teatro. Mais que um hábito, para esses vai que o teatro, sem receio do clichê, é uma necessidade, quem sabe até mesmo orgânica. Daí que o teatro não funciona como um interruptor de luz, é verdade, um liquidificador, ou um travesseiro, mas certamente cumpre papel decisivo naquilo que venho chamando de tecnologia do afeto.

Seres humanos pensam, riem, choram, apaixonam-se, eis o ponto nevrálgico, nisso consiste a necessidade de que falei. Sem isso, que é visceral, e o cérebro no fundo é um grande estômago, sem isso não há o ser humano. Não podemos salvar as personagens de uma peça. Talvez não possamos sequer salvar o homem e a humanidade. Mas não devemos esquecer que a desesperança é só um jeito de imaginar, é um dos vieses da criação. Há outros, talvez investir tempo em compartilhar experiências com pessoas seja o melhor jeito de não deixar que as pessoas, muito mais que as estórias ou a arte, não se acabem. Assim, queridos produtores, fico aqui quebrando a cabeça. É preciso escrever algo sobre mim, sobre a peça, sobre o grupo que soe vendável, comercializável. Muito bem, não sei o que pode ter mais valor, mesmo comercial, do que dizer a verdade. Com verdade nos olhos e nas mãos que dedilham o teclado, faço-me a pergunta: Por que acredito tanto na peça Na verdade não era?

Porque para mim a literatura tanto quanto o teatro são a realidade. A arte é um modo possível de operar o real. A vida, creio, a estamos reinventando, reinventariando a cada dia. Pois bem, assim eu consigo viver. Assim eu sou capaz de promover uma exigente e perscrutativa declaração de amor. Não uma declaração a uma pessoa apenas, mas também a ela, tanto quanto a muitas outras pessoas e, por que não?, a seus duplos, em espírito e psique. Não obstante, Na verdade não era é uma declaração de amor à ficção, à essência de inventador de estórias que há no homem, a sua capacidade lúdica de entreter-se, de seduzir o outro, de confiar. O que não sabemos nomear talvez seja o que nos salva, o que salva as atrizes e a platéia quando interagimos nessa comunhão pública, nesse lugar que é o que está entre nós e a platéia. Eis o lugar que como escritor almejo, eu quero ser esse lugar público. Porque em tal sítio não existe mentira, ela não se sustenta, ali é quando o labor da arte produz efeitos cirúrgicos, silenciosos no coração, no sangue, no cérebro daquele que comunga o mesmo ato, o da esperança por acreditar que de algum modo isso nos faz melhores para continuar. Nisso está minha declaração de amor, agora dissipada e, porque, artistas profissionais ou não, somos todos sensíveis, vivemos para criar e somos criados. Essa minha carta, amigos, é um bumerangue, algo que vai e volta e que não tem dono, um bumerangue poético, porém demasiado real, uma coisa chamada lugar público.


Luiz Felipe Leprevost

04 de abril de 2009 – domingo.

Curitiba.

Santa Felicidade.

23.3.09

OUTRAS PAISAGENS SECRETAS

Companhia Provisória/Os Iconoclastinhas apresentam:

OUTRAS PAISAGENS SECRETAS

leitura dramática e fatal do texto curto de Luiz Felipe Leprevost
com Ciliane Vendruscolo e Luiz Felipe Leprevost
direção de Nina Rosa Sá

data: 24 de março
horário: 15 horas
local: TEUNI (Prédio Histórico da Federal, praça Santos Andrade s/ no.)
Entrada Franca

Evento gratuito da Mostra Novos Repertórios

19.3.09

Valmir Santos indica 20 peças entre as 290 do Fringe

Valmir Santos indica 20 peças entre as 290 do Fringe. Na Verdade Não Era é uma delas.

Abaixo os motivos.

Na Verdade não era o Sinal de Vai Tomar no Cu

"Não confundir com o festival de besteiras que assola o Fringe com os títulos de peças locais, invólucros proporcionais aos conteúdos. O que está em jogo aqui é o experimento narrativo minimalista pela pena de Luiz Felipe Leprevost e direção de Nina Rosa Ruski. Três banquinhos, três moças, três figurinos roxos e tons de luz idem. Imóveis, sentadas, levantando-se em raros instantes, elas fazem o espectador mergulhar num fluxo que puxa para cá, puxa para lá e atualiza um pouco o espírito das transmissões radiofônicas de outrora em que o ouvinte, ou o grupo de ouvintes, deixa-se levar pela voz. Projeto da Companhia Provisória/Os Iconoclastinhas, fusão nascida em 2008.

Valmir escreveu no blog do Cena Breve:

O cenário é minimalístico e tem a ver com a forma como essa história é narrada, Na verdade não era o sinal de vai tomar no cu. Três banquinhos, três moças, três figurinos roxos e tons de luz, idem. Imóveis em suas posturas, sentadas, em pé somente em raros instantes, elas fazem o espectador mergulhar num fluxo que puxa para cá, puxa para lá e atualiza um pouco o espírito das transmissões radiofônicas de outrora em que o ouvinte, ou o grupo de ouvintes, deixa-se levar pela voz.

Mas estamos no teatro, o edifício com a platéia frontal. A joint-venture Os Iconoclastinhas/Companhia Provisória experimenta parâmetros da fala, e de como se fala, em detrimento de outras concorrências cênicas, salvo pontualidades coreográficas brevíssimas. A aposta de Nina Rosa Sá, a diretora, é escoar solto o pingue-pongue dessas mulheres de línguas e pensamentos afiados na dramaturgia de Luiz Felipe Leprevost. O autor roça oposição a Play, de Beckett, e suas três cabeças falantes, céleres e semi-enterradas em urnas. Aqui, a luz escancara; lá, na dramaturgia do irlandês, o breu é guiado por uma luz fulminante.Resta ao conjunto das intérpretes, porém, mais fôlego, no melhor sentido, para sustentar suas Kel, Ili e Inha, nomes cuja pronúncia faz a língua ir aos dentes, aos céus da boca, em busca do por onde. Uma das atrizes, a do meio, Ciliane Vendruscolo, é mais desenvolta, alarga o labirinto da narração para que o espectador vá consigo nas desventuras de uma certa U, a mulher que atravessa a cidade dentro de um ônibus, uma saga bem-humorada à base do diz-que-diz sobre a desgraça alheia. As vizinhas de banquinho, Ana Ferreira e Kelly Eshima, que ora retrucam ora endossam, desequilibram na projeção de voz, na cor da palavra, no timming da respiração que certos momentos do relato pedem.Mas fato é que essa história viciosa em seu afirma-e-nega tem tudo para desenvolver-se em todos os planos que sinaliza, está dito.

14.3.09

É uma rua só concreto armado!!!!

E U, foi pra onde?

10.3.09

NA VERDADE NÃO ERA

Com direção de Nina Rosa Sá, texto de Luiz Felipe Leprevost, Na verdade não era , é uma experiência com teatro narrativo e estará em cartaz no Festival de Curitiba, na Mostra Novos Repertórios. A peça será apresentada no Teatro Teuni, no prédio historio da UFPR.

Na Verdade Não Era apresenta uma história repleta de elementos surpresa, revelando invariavelmente o quanto de surrealismo é possível ser encontrado nas coisas mais óbvias e corriqueiras quando uma personagem enigmática cruza a cidade dentro de um ônibus. U, essa pessoa que se traduz em uma letra, é a heroína clownesca de seu próprio dia.

O ambiente urbano é ao mesmo tempo centro e pano de fundo da narrativa. A comicidade que surge no absurdo e misterioso assume caráter trágico com as pinceladas de elementos familiares. As fronteiras da ficção ficam cada vez mais frágeis. Tudo é incerto. Quem narra parte apenas da idéia de que “está parecendo que o que não está aparecendo é U, é isso mesmo?”.

O espetáculo se ocupa de uma história que não se passa no palco, mas na imaginação. Deste modo, a narrativa se transforma em proposta cênica. As atrizes apresentam um jogo no qual jogadores e peças se confundem. Até mesmo a real platéia, que é admitida como ficcional para as intérpretes, se torna testemunha e ainda inventora da personagem central U.

O autor Luiz Felipe Leprevost é curitibano e procura exprimir o sentimento de sê-lo em sua dramaturgia. A cidade está estampada no texto. Segundo Valmir Santos1 “O autor roça oposição a Play, de Beckett, e suas três cabeças falantes, céleres e semi-enterradas em urnas. Aqui, a luz escancara; lá, na dramaturgia do irlandês, o breu é guiado por uma luz fulminante”.

Na Verdade Não Era é o primeiro espetáculo resultante da simbiose Companhia Provisória/Os Iconoclastinhas. Da Provisória veio a experiência com encenação, da Iconoclastinhas, a dramaturgia de Luiz Felipe Leprevost e de ambas, a paixão. Sendo que neste festival de teatro é a última vez que a joint-venture se auto-referencia com este nome. Pois a fusão deu tão certo que daqui pra frente se transformará numa única companhia teatral-músico-literária, o Teatro de Ruído.

A Mostra Novos Repertórios tem sua terceira edição no Festival de Curitiba deste ano. É formada por cinco grupos locais: A Armadilha, Companhia Silenciosa, ACRUEL Companhia de Teatro, Companhia Provisória / Os Iconoclastinhas e a Heliogábalus. O ponto comum entre as companhias é a realização de um trabalho artístico contínuo, com ênfase na pesquisa teatral, novas tendências e possibilidades de dramaturgia, interpretação e encenação.

Ficha Técnica:
Realização: Companhia Provisória/Os Iconoclastinhas.
Texto: Luiz Felipe Leprevost.
Direção: Nina Rosa Sá.
Elenco: Ana Ferreira, Ciliane Vendruscolo, Kelly Eshima, Uyara Torrente.
Figurinos: Fabianna Pescara e Renata Skrobot.
Design Gráfico: Renata Skrobot.
Iluminação: Fábia Regina.
Assessoria de imprensa: Daniel Starck.

Serviço:
Local: TEUNI (prédio histórico da UFPR).
Ingresso: R$ 12,00 (inteira), R$ 10,00 (bônus) e R$ 6,00 (meia).
Datas: sexta 20 – 18h; sábado 21 – 21h; segunda 23 – 24h; terça 24 - 18h; quarta 25 - 21h; quinta 26 – 24h; domingo 29 – 18h.
Informações: www.tudoradio.com/festival ou pelo telefone 99191230 (Daniel Starck).
“A solidão, benzinho, é essa manada que ta aí.”

A certo momento da peça a personagem enigmática que vivencia sua epopéia fala exatamente isso. A peça fala exatamente sobre isto. Sobre a solidão que só é aplacada quando se narra pequenos contos, quando se vivencia uma estória ou, neste caso, quando se faz teatro. A solidão da personagem é também a nossa solidão. Também só aplacada quando estamos aqui. No palco, na cabine ou mesmo na platéia.

A Companhia Teatro de Ruído propõe um jogo. Cabe a você, caro espectador, decidir o final desta pretensa tragédia em três atos. Tragicômico? Talvez. Você Decide, como naquele programa de TV.